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sábado, 1 de junho de 2013

O tempo

        Sentada na cozinha, um pedaço de papel me fita. Lembranças, músicas, fotos e sonhos. A leveza de poder vislumbrar o que me contempla é o que faz imergir a imagem criada de uma vida que se aproxima. Sonhos não podem ser guardados. O belo não pode se esconder. Sonhos se assemelham àquelas crianças peraltas, risonhas, que te arrancam um sorriso do rosto apenas com um olhar. É fascinante apreciar a tradução da alma, revolta ou  acalentada, em palavras criadas sob um coração que pulsa descontrolado, porque não soube falar, e a única maneira que encontra para expressar-se é bater. Tum, ta, tum, ta: eis o compasso do tempo. A analogia me remete à imagem do relógio na parede, objeto imutável que acompanha nossos passos, embora se faça silencioso. Apenas consente com o mover da vida.
        Ser amigo das horas é para poucos. Recordo-me de um trecho que li e achei interessante: "o correr da vida embrulha tudo." Talvez exista um momento de remodelar nosso próprio tempo, não fazer de nossas vidas mero cumprimento de formalidades, mas conseguir abstrair o máximo proveito de determinadas situações, sem que se tornem fardos pesados ou maçantes frustrações.
     O tempo que nos envolve se dissipa lentamente, não consegue esperar, mortifica. Transforma-se em flagelo, incomoda quem por ele passa. Entretanto, esse mesmo tempo parece saborear os rodopios intermináveis da vida, se fazendo espectador meticuloso, silencioso. Mas não é o tempo que empobrece a vivência, e sim as almas que o compõem. A partir destas provêm o temor do mundo, a aflição dos homens, o desconsolo de se estar vivo na matéria, enquanto se agoniza no incólume espírito.
        

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